domingo, 31 de março de 2019

Todos são livres para pensar… como eu!

As últimas semanas foram ricas em intolerância e sectarismo. O líder do PSD no Distrito de Setúbal, Bruno Vitorino, decidiu numa publicação do Facebook, mostrar publicamente a sua indignação por o Agrupamento de Escolas de Santo André (Barreiro) ter promovido uma “visita de estudo” ao Auditório da Escola 2/3 da Quinta da Lomba de alunos do 6º e 8º ano com o objetivo de “promover a igualdade de género” e “sensibilizar os alunos para diferentes orientações sexuais”. A sessão foi ministrada por uma Associação LGBTI e teve um custo de 50 cêntimos por aluno.
A manifestação de uma opinião contrária à posição defendida pelos organizadores do “evento”, algo que seria perfeitamente corriqueiro numa democracia normal, rapidamente deu azo a que uma turba fanatizada ideologicamente se insurgisse com violência, perseguição e ameaças diversas para com o autor da crítica àquilo que se designa por ideologia de género e que de acordo com o entendimento de parte muito significativa da esquerda portuguesa não é nem pode ser objeto de qualquer tipo de crítica. A coisa acabou mesmo por levar duas deputadas do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua e outra que não me lembro o nome, a apresentar queixa contra Bruno Vitorino na Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).
Vamos por partes. O que é afinal a ideologia de género? Basicamente trata-se de uma ideologia e não de uma ciência que opina que uma pessoa não pertence ao sexo a que corresponde (masculino ou feminino) mas antes do “género” que decide pertencer, sendo que esta identidade de género não é condicionada pelas características do corpo, concretamente os órgãos sexuais.
A ideologia de género brota do marxismo, que depois da derrota copiosa na economia, nesta sua nova roupagem, elege como alvo a família e elementos caracterizadores da masculinidade e feminilidade, as bases tradicionais da família. A este respeito, recordo uma anterior e bem-sucedida censura no verão de 2017, também com queixas na CIG, contra a Porto Editora por esta ter publicados blocos de atividades para crianças dos 4 aos 6 anos, com a particularidade de um ser destinado a meninos (com uma capa azul!) e outro a meninas (com uma capa rosa!). Já antes, em abril de 2016, o Bloco de Esquerda tinha iniciado uma “intifada” cá no burgo pela mudança de nome do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania, pelo mesmo motivo. 
Uma vez que a ideologia de género é uma ideologia situada na área da extrema-esquerda marxista procura impor-se de forma totalitária na sociedade, aliás, a única forma que conhece e concebe de controlo e dominação social. Devagar, contando com a desatenção dos mais distraídos, vai conseguindo este objetivo. Quem se recorda de anúncios televisivos passados na década de 90 e início da década passada protagonizados por modelos como Soraia Chaves (Vodafone), Marisa Cruz (revista Maxmen), Joana Freitas (TV Cabo) e o inesquecível anúncio das garrafas plumas da GALP carregadas por uma modelo que despejava sensualidade feminina? Já se perguntaram por que já não se fazem anúncios destes? O totalitarismo da ideologia de género não os permite, da mesma maneira que também não permite livros com atividades distintas para meninos e meninas.
A concretização dos objetivos da ideologia de género passa necessariamente pela doutrinação dos alunos (quanto mais novos melhor) nas escolas para a criação já do não do clássico marxista “homem novo” mas sim da “pessoa nova”, para isso “visitas de estudo” como a do Agrupamento de Escolas no Barreiro são imprescindíveis.
Pelo exposto, considero que Bruno Vitorino esteve muito bem, agindo com coragem em defesa da Democracia perante esta nova e dissimulada forma de totalitarismo.

Por Colin Mateus Marques (Diário do Distrito, 30/03/2019)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Julgar uma campanha política pequenina é um dever cívico

Voltaire sentenciou que “a política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.” Ocorreu-me este pensamento deste brilhante filósofo que a França ofereceu à humanidade – embora muitos não tenham aprendido nada com ele como já se vai perceber – quando assisti à campanha protagonizada pelo Partido Socialista (PS) em Palmela ao longo dos cinco dias da Festa das Vindimas.
Os socialistas de Palmela alugaram um espaço (stand) com a finalidade de servir como palco de toda a elegância, decoro e elevação política que tanto os une como os galvaniza. O que conseguiram com estrondoso êxito. Ninguém que por lá passou e assistiu ao espectáculo pacóvio exibido ininterruptamente naquele palco pode ter ficado indiferente à triste figura que vários dirigentes socialistas do concelho e do distrito protagonizaram.
Passo a explicar em que consistiu a performance socialista, isto é, da “Alternativa de Confiança”, como sem pudor se intitulam. Ignoro a autoria da ideia, mas, dada a infantilidade da coisa, não é difícil atribuir a façanha à Juventude Socialista de Palmela. O espectáculo consistiu em convidar os transeuntes a atirar uma bola de borracha contra umas latas empinadas em forma de triângulo decoradas com as caras de Pedro Passos Coelho e de alguns dos seus ministros (entre os quais constava o… Presidente da República, o que dada a ignorância oceânica que por ali andava não causa pasmo…) com o objectivo de as derrubar – simbolizando o derrube efectivo do Governo. Quem conseguisse a proeza era premiado com um chapéu vermelho de papel com o símbolo do punho fechado dos socialistas, uma régua e um jornal de campanha. Foram vários, sobretudo crianças mas também adultos infantilizados, que obtiveram sucesso. Embora para o efeito não seja alheio o facto de não haver limite para as tentativas. Não posso deixar de notar que, em jeito de cereja no topo do bolo, a coreografia do espectáculo era encimada por uma faixa com o slogan “é tempo de confiança”…
A coisa fosse da exclusividade dos jotinhas de “Confiança” compreendia a boçalidade do espectáculo. O que verdadeiramente me surpreendeu foi ver dirigentes e autarcas como Raul Manuel Cristóvão, Maria Natividade Coelho ou Pedro Taleço se deixarem cobrir de ridículo e participarem com um entusiasmo de crianças no espectáculo, atirando bolas e ganhando chapéus, além de incentivar outros a fazer o mesmo.
Depois percebi que o povo está coberto de razão quando defende que o “exemplo deve vir de cima”. A própria líder distrital e número um da lista da “Alternativa de Confiança” pelo Distrito, Ana Catarina Mendes, também participou com uma alegria de menina e lá atirou a sua bolinha e ganhou o seu chapeuzinho. 

Esta maneira pequenina de fazer política merece ser julgada nas urnas. Espero que assim seja em nome do decoro e da elevação que se deseja na vida pública e política de um país europeu moderno e civilizado. 
"Diário da Região" (23/09/2015)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Numa noite angustiante, quase desesperada, de incertezas profissionais e por consequência pessoais e familiares, um refúgio nos livros levou-me a este fabuloso excerto de Marco Aurélio.

“Tudo o que acontece, acontece justamente. Vê-lo-ás se observares com justeza. Não digo tão-somente segundo a relação de sequência, mas outrossim segundo a justiça, é como se alguém distribuísse as sortes ma proporção do mérito. Contínua portanto a observar, como começaste, e, faças o que fizeres, fá-lo com o intuito de seres um homem de bem, consoante a ideia específica que é corrente sobre o que seja um homem de bem. Põe a salvo esta ideia em tudo o que empreenderes.”

Marco Aurélio (in Pensamentos).

Compreendido. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Homens de certezas

Charles Bukowsky, poeta e romancista norte-americano, vaticinava em meados do século XX que: “o problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas cheias de certezas”. Um pensamento intemporal.

Para nossa desgraça, vivemos numa época de crise económica e financeira que, com maior ou menor veemência, fustiga a generalidade dos países desenvolvidos sem que ninguém, independentemente do seu conhecimento e capacidade intelectual, possa com honestidade se considerar detentor do antídoto para a sua cura.

Todavia, mesmo nesta conjuntura de incerteza, existem pessoas com responsabilidades políticas que estão cheias de certezas. Uma delas é Jerónimo de Sousa – um homem que não permite que qualquer dúvida assalte as suas certezas, sempre e para sempre inabaláveis.

Jerónimo de Sousa tem a certeza do que levou à crise: “consequência da ofensiva da política de direita que se vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas”. E como é que ele possui esse conhecimento? Directamente de Álvaro Cunhal, apóstolo de Lenine e Estaline, de quem é discípulo, que em 1980 com “premonitória visão” antecipou a crise de 2008! E sem dúvidas, apenas certezas.

As certezas de Jerónimo de Sousa expressam-se com maior clareza falando barato. Os culpados da crise são os “ideólogos do neoliberalismo” e o “capitalismo”. E a salvação passa por uma “política patriótica e de esquerda”, evidentemente preconizada por ele próprio e pela seita que dirige. Isto é, Jerónimo de Sousa não tem qualquer dúvida que conseguirá ser o único caso de sucesso do modelo comunista da história da humanidade. Para o efeito, ou seja, para alcançar o “sol na terra”, seria apenas necessário que os portugueses ensandecessem e passassem a partilhar idêntica certeza…

As pessoas cheias de certezas geralmente partilham uma retórica demagógica, básica e vulgar, que se expressa por um vocabulário truculento que não se distingue pela elevação nem pelo decoro. Jerónimo de Sousa evidentemente não foge à regra. Por exemplo, Passos Coelho é um “fiteiro empertigado”; Cavaco Silva não tem “seriedade nem ética”; a maioria PSD/CDS uns “grandes mentirosos”; o FMI um “buldogue” que apanha “um pouco de pele e não larga mais”. Mas, esta retórica faz eco na comunicação social que não se cansa de a amplificar repetidamente, como que procurando a adesão a estas certezas da população portuguesa que mais sente as consequências da crise.  

Estes homens cheios de certezas num país com uma população informada e esclarecida seriam, quando a sua presença não fosse evitável, tratados com aquele sorriso educado que se reserva aos tontos ou com o repúdio que se reserva aos fanáticos. Infelizmente, em Portugal, existe um “mercado” de seguidores destas certezas que permanece mais ou menos coeso e, pior, com potencialidade de crescimento em épocas como a que atravessamos. E isto não pode deixar de causar preocupação. Homens que só têm certezas são perigosos fanáticos cujas iniciativas acabam invariavelmente em totalitarismos sanguinários.

Como ensinou Bertrand Russell: “essas pessoas só serão inofensivas enquanto forem em pequeno número”. Deus queira que assim continue.

sábado, 24 de julho de 2010

Mudar

O Espelho do Corisco vai dar lugar a um novo blogue, deste vez temático. Encerra assim esta experiência na blogosfera. Enormes afazeres profissionais combinados com a pouca vontade de manter um blogue desta índole sozinho ditam a suspensão definitiva deste blogue que entretanto fica activo até serem salvaguardados os seus conteúdos. Um até breve em novo endereço.

domingo, 20 de junho de 2010

O Último Adeus (Honoré de Balzac)

O Último Adeus” (1830) do escritor conservador (e, como um verdadeiro conservador, trabalhador, consta que escrevia 15 horas por dia!) Honoré de Balzac (1779-1850) é um excelente romance histórico que se lê de uma penada – a edição de bolso da Europa-América tem 80 páginas e um tamanho de letra gigantesco que facilita o devorar da leitura.
Escritor do seu tempo e figura de proa do romantismo francês, Honoré de Balzac oferece-nos neste romance um retrato realista (que tanto caracteriza o romantismo do século XIX) da derrocada de Napoleão e da debandada do seu exército depois da fatídica invasão da Rússia. A prosa chega mesmo a ser chocante pela sua desmesurada crueza:
“O heroísmo destas tropas generosas ia mostrar-se inútil. Os soldados que afluíam em massa às margens do Beresina vinham encontrar, por desgraça, essa imensidão de carros, de caixas, de móveis de toda a espécie, que o exército tivera de abandonar ao efectuar a travessia do rio nos dias 27 e 28 de Novembro [de 1812]. Herdeiros de riquezas inesperadas, esses desgraçados, endurecidos pelo frio, instalavam-se nos bivaques vazios, partiam o material do exército para construírem cabanas, acendiam fogueiras com tudo o que lhes vinha às mãos, despedaçavam os cavalos para se alimentarem das suas entranhas, arrancavam as cortinas ou as capotas dos carros para se cobrirem, e ficavam-se a dormir, em vez de continuarem o caminho e transporem, durante a noite, esse Beresina que uma incrível fatalidade tornara já tão funesto para o exército.
A apatia desses pobres soldados não a podem compreender senão os que se lembram de terem atravessado esses vastos desertos de neve sem poderem beber outra coisa que não fosse a própria neve, sem outra cama além da neve, sem outra perspectiva além do horizonte de neve, sem outro alimento que não fosse a neve ainda ou algumas beterrabas geladas e uns punhados de farinhas ou carne de cavalo. Mortos de fome, de sede, de cansaço e de sono, esses infelizes chegavam à praia onde se lhes deparava madeira, lume, alimentação, inúmeros carros abandonados, bivaques, enfim, toda uma cidade improvisada.”
(p. 28/29).
A história trata de um amor impossível, entre o barão Philippe de Sucy e a condessa Stéphanie de Vandières, iniciado no tumulto desumano da guerra e mais tarde reencontrado, embora marcado com as chagas abertas pela mesma. Philippe tenta então resgatar o garnde amor da sua vida das trevas da loucura. Esta nobre e romântica atitude produziu resultados e teve consequências. Vale a pena ler para saber qual foi o preço que o barão de Sucy pagou pelo seu amor incondicional a Stéphanie.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Vos estis sal terra |

 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...