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Num diálogo erudito, fascinante e enriquecedor, Eco e Carrière descrevem a trajectória dos vários suportes do conhecimento nos últimos dois mil anos de história. Ambos os pensadores começam o seu diálogo concordando que o livro não morrerá suplantado pelo e-book. Debatem sobre o porquê de alguns livros chegarem até nós e outros não. E porque são alguns livros e autores esquecidos e outros não. Do mesmo modo que se debruçam sobre as motivações que levaram à censura e à destruição do livro enquanto suporte do saber, desde a damnation memoriae no Império Romano passando pelas purgas literárias da inquisição, do nazismo e do comunismo.
A importância do saber e o prazer de coleccionar e viver rodeado por livros são também abordados neste extraordinário diálogo assim como o que fazer dessas colecções, construções de uma vida, após o desaparecimento dos coleccionadores. Além do medo de se verem privados destas frutuosas bibliotecas particulares ainda durante a vida, especialmente se destruídas por um incêndio do que resulta o título do livro: “A Obsessão do Fogo”. Todos os amantes da leitura, do saber, do conhecimento, da cultura e do livro encontram nesta obra ingredientes suficientes para uma enriquecedora e deliciosa leitura.
Nota negativa para a capa, onde o nome de Jean-Claude Carrière aparece como se de um autor secundário se tratasse, quando na realidade é Carrière quem tem uma maior preponderância durante todo o diálogo. O oportunismo publicitário da editora Difel no destaque do nome de Umberto Eco (que chega a ser superior ao próprio título do livro) é lamentável e injusto. Eco vende certamente mais do que Carrière, mas será que a colocação do nome dos dois autores num plano semelhante se traduzira em menores vendas? Como diria o Herman, não havia necessidade…
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