Para nossa desgraça, vivemos numa
época de crise económica e financeira que, com maior ou menor veemência,
fustiga a generalidade dos países desenvolvidos sem que ninguém,
independentemente do seu conhecimento e capacidade intelectual, possa com
honestidade se considerar detentor do antídoto para a sua cura.
Todavia, mesmo nesta conjuntura
de incerteza, existem pessoas com responsabilidades políticas que estão cheias
de certezas. Uma delas é Jerónimo de Sousa – um homem que não permite que qualquer
dúvida assalte as suas certezas, sempre e para sempre inabaláveis.
Jerónimo de Sousa tem a certeza
do que levou à crise: “consequência da ofensiva da política de direita que se
vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas”. E como é que ele possui
esse conhecimento? Directamente de Álvaro Cunhal, apóstolo de Lenine e
Estaline, de quem é discípulo, que em 1980 com “premonitória visão” antecipou a
crise de 2008! E sem dúvidas, apenas certezas.
As certezas de Jerónimo de Sousa
expressam-se com maior clareza falando barato. Os culpados da crise são os “ideólogos
do neoliberalismo” e o “capitalismo”. E a salvação passa por uma “política
patriótica e de esquerda”, evidentemente preconizada por ele próprio e pela
seita que dirige. Isto é, Jerónimo de Sousa não tem qualquer dúvida que
conseguirá ser o único caso de sucesso do modelo comunista da história da
humanidade. Para o efeito, ou seja, para alcançar o “sol na terra”, seria
apenas necessário que os portugueses ensandecessem e passassem a partilhar
idêntica certeza…
As pessoas cheias de certezas
geralmente partilham uma retórica demagógica, básica e vulgar, que se expressa
por um vocabulário truculento que não se distingue pela elevação nem pelo
decoro. Jerónimo de Sousa evidentemente não foge à regra. Por exemplo, Passos
Coelho é um “fiteiro empertigado”; Cavaco Silva não tem “seriedade nem ética”;
a maioria PSD/CDS uns “grandes mentirosos”; o FMI um “buldogue” que apanha “um
pouco de pele e não larga mais”. Mas, esta retórica faz eco na comunicação
social que não se cansa de a amplificar repetidamente, como que procurando a
adesão a estas certezas da população portuguesa que mais sente as consequências
da crise.
Estes homens cheios de certezas
num país com uma população informada e esclarecida seriam, quando a sua
presença não fosse evitável, tratados com aquele sorriso educado que se reserva
aos tontos ou com o repúdio que se reserva aos fanáticos. Infelizmente, em
Portugal, existe um “mercado” de seguidores destas certezas que permanece mais
ou menos coeso e, pior, com potencialidade de crescimento em épocas como a que
atravessamos. E isto não pode deixar de causar preocupação. Homens que só têm
certezas são perigosos fanáticos cujas iniciativas acabam invariavelmente em
totalitarismos sanguinários.
Como ensinou Bertrand Russell: “essas
pessoas só serão inofensivas enquanto forem em pequeno número”. Deus queira que
assim continue.