quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Julgar uma campanha política pequenina é um dever cívico

Voltaire sentenciou que “a política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.” Ocorreu-me este pensamento deste brilhante filósofo que a França ofereceu à humanidade – embora muitos não tenham aprendido nada com ele como já se vai perceber – quando assisti à campanha protagonizada pelo Partido Socialista (PS) em Palmela ao longo dos cinco dias da Festa das Vindimas.
Os socialistas de Palmela alugaram um espaço (stand) com a finalidade de servir como palco de toda a elegância, decoro e elevação política que tanto os une como os galvaniza. O que conseguiram com estrondoso êxito. Ninguém que por lá passou e assistiu ao espectáculo pacóvio exibido ininterruptamente naquele palco pode ter ficado indiferente à triste figura que vários dirigentes socialistas do concelho e do distrito protagonizaram.
Passo a explicar em que consistiu a performance socialista, isto é, da “Alternativa de Confiança”, como sem pudor se intitulam. Ignoro a autoria da ideia, mas, dada a infantilidade da coisa, não é difícil atribuir a façanha à Juventude Socialista de Palmela. O espectáculo consistiu em convidar os transeuntes a atirar uma bola de borracha contra umas latas empinadas em forma de triângulo decoradas com as caras de Pedro Passos Coelho e de alguns dos seus ministros (entre os quais constava o… Presidente da República, o que dada a ignorância oceânica que por ali andava não causa pasmo…) com o objectivo de as derrubar – simbolizando o derrube efectivo do Governo. Quem conseguisse a proeza era premiado com um chapéu vermelho de papel com o símbolo do punho fechado dos socialistas, uma régua e um jornal de campanha. Foram vários, sobretudo crianças mas também adultos infantilizados, que obtiveram sucesso. Embora para o efeito não seja alheio o facto de não haver limite para as tentativas. Não posso deixar de notar que, em jeito de cereja no topo do bolo, a coreografia do espectáculo era encimada por uma faixa com o slogan “é tempo de confiança”…
A coisa fosse da exclusividade dos jotinhas de “Confiança” compreendia a boçalidade do espectáculo. O que verdadeiramente me surpreendeu foi ver dirigentes e autarcas como Raul Manuel Cristóvão, Maria Natividade Coelho ou Pedro Taleço se deixarem cobrir de ridículo e participarem com um entusiasmo de crianças no espectáculo, atirando bolas e ganhando chapéus, além de incentivar outros a fazer o mesmo.
Depois percebi que o povo está coberto de razão quando defende que o “exemplo deve vir de cima”. A própria líder distrital e número um da lista da “Alternativa de Confiança” pelo Distrito, Ana Catarina Mendes, também participou com uma alegria de menina e lá atirou a sua bolinha e ganhou o seu chapeuzinho. 

Esta maneira pequenina de fazer política merece ser julgada nas urnas. Espero que assim seja em nome do decoro e da elevação que se deseja na vida pública e política de um país europeu moderno e civilizado. 
"Diário da Região" (23/09/2015)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Numa noite angustiante, quase desesperada, de incertezas profissionais e por consequência pessoais e familiares, um refúgio nos livros levou-me a este fabuloso excerto de Marco Aurélio.

“Tudo o que acontece, acontece justamente. Vê-lo-ás se observares com justeza. Não digo tão-somente segundo a relação de sequência, mas outrossim segundo a justiça, é como se alguém distribuísse as sortes ma proporção do mérito. Contínua portanto a observar, como começaste, e, faças o que fizeres, fá-lo com o intuito de seres um homem de bem, consoante a ideia específica que é corrente sobre o que seja um homem de bem. Põe a salvo esta ideia em tudo o que empreenderes.”

Marco Aurélio (in Pensamentos).

Compreendido. 

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 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...