Voltaire
sentenciou que “a política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do
espírito humano.” Ocorreu-me este pensamento deste brilhante filósofo que a
França ofereceu à humanidade – embora muitos não tenham aprendido nada com ele
como já se vai perceber – quando assisti à campanha protagonizada pelo Partido
Socialista (PS) em Palmela ao longo dos cinco dias da Festa das Vindimas.
Os socialistas
de Palmela alugaram um espaço (stand) com a finalidade de servir como palco de
toda a elegância, decoro e elevação política que tanto os une como os galvaniza.
O que conseguiram com estrondoso êxito. Ninguém que por lá passou e assistiu ao
espectáculo pacóvio exibido ininterruptamente naquele palco pode ter ficado
indiferente à triste figura que vários dirigentes socialistas do concelho e do
distrito protagonizaram.
Passo a
explicar em que consistiu a performance socialista, isto é, da “Alternativa de
Confiança”, como sem pudor se intitulam. Ignoro a autoria da ideia, mas, dada a
infantilidade da coisa, não é difícil atribuir a façanha à Juventude Socialista
de Palmela. O espectáculo consistiu em convidar os transeuntes a atirar uma
bola de borracha contra umas latas empinadas em forma de triângulo decoradas
com as caras de Pedro Passos Coelho e de alguns dos seus ministros (entre os
quais constava o… Presidente da República, o que dada a ignorância oceânica que
por ali andava não causa pasmo…) com o objectivo de as derrubar – simbolizando
o derrube efectivo do Governo. Quem conseguisse a proeza era premiado com um
chapéu vermelho de papel com o símbolo do punho fechado dos socialistas, uma
régua e um jornal de campanha. Foram vários, sobretudo crianças mas também
adultos infantilizados, que obtiveram sucesso. Embora para o efeito não seja
alheio o facto de não haver limite para as tentativas. Não posso deixar de
notar que, em jeito de cereja no topo do bolo, a coreografia do espectáculo era
encimada por uma faixa com o slogan “é tempo de confiança”…
A coisa fosse
da exclusividade dos jotinhas de “Confiança” compreendia a boçalidade do
espectáculo. O que verdadeiramente me surpreendeu foi ver dirigentes e autarcas
como Raul Manuel Cristóvão, Maria Natividade Coelho ou Pedro Taleço se deixarem
cobrir de ridículo e participarem com um entusiasmo de crianças no espectáculo,
atirando bolas e ganhando chapéus, além de incentivar outros a fazer o mesmo.
Depois percebi
que o povo está coberto de razão quando defende que o “exemplo deve vir de
cima”. A própria líder distrital e número um da lista da “Alternativa de
Confiança” pelo Distrito, Ana Catarina Mendes, também participou com uma
alegria de menina e lá atirou a sua bolinha e ganhou o seu chapeuzinho.
Esta maneira
pequenina de fazer política merece ser julgada nas urnas. Espero que assim seja
em nome do decoro e da elevação que se deseja na vida pública e política de um
país europeu moderno e civilizado.
"Diário da Região" (23/09/2015)
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