domingo, 31 de agosto de 2008

Porque é que só as deslocações dos Super Dragões são acompanhadas pela comunicação social?

Acho lastimáveis e presunçosas as reportagens que são feitas, sem excepções, sobre a claque Super Dragões do FCP sempre que estes tumultuosamente se deslocam a Lisboa. Claro que é um espectáculo de rudeza, ordinarice e estupidez absoluta. A imensa maioria das pessoas que pertencem a claques não tem absolutamente nada dentro da cabeça. Apenas um fanatismo irracional por um clube de futebol no meio de uma enorme ignorância e duma ausência total de valores e princípios. Ao que se acrescenta uma completa ausência de objectivos e ambições.
Contudo, a comunicação social portuguesa (com destaque para a SIC) só apresenta estes tristes exemplos através da cobertura das deslocações da claque do FCP. Quando os Diabos Vermelhos ou os No Name Boys, do SLB, ou a Juventude Leonina, do Sporting, fazem deslocações nunca são acompanhados pela comunicação social. Apenas os Super Dragões o são. E garanto-vos que o “nível” entre estas diferentes claques é exactamente o mesmo. Por isso as claques do SLB e SCP não têm direito a este tipo de estrelato, isto é, a distinção pela rudeza e pela falta de educação. Alguém conhece algum o líder de alguma claque do Benfica ou do Sporting? Não conhece. E não conhece porque a comunicação social apenas cobre, em regime de exclusividade, as deslocações dos Super Dragões para dessa forma contribuir para a construção duma imagem negativa sobre todos os adeptos do FCP, assim como do próprio clube. É da imagem do FCP como um clube de arruaceiros que se trata.

sábado, 30 de agosto de 2008

Sarah Palin, uma escolha inteligente


Sarah Palin foi uma escolha inteligente de John McCain para a vice-presidência. É mulher e por causa disso pode captar votos entre as mulheres em geral e as feministas em particular. Sendo conservadora acalma o eleitorado mais conservador do Partido Republicano, que continua apreensivo relativamente ao senador do Arkansas. Como tem a mesma idade de Barack Obama tira peso ao argumento da idade muito em voga entre os democratas nesta eleição presidencial. Mas, o mais importante é a sua experiência enquanto governadora do Alasca. Os norte-americanos não gostam de senadores, demasiado “políticos”. Preferem candidatos com experiência governativa. Por isso, os EUA têm sido desde há muito presididos por ex-governadores. O último senador que se tornou Presidente dos EUA foi Gerald Ford – sem eleições devido à resignação de Nixon, de quem era vice-presidente. Esta atípica eleição presidencial norte-americana trouxe também a novidade de os senadores passarem a ser opções válidas para a presidência, algo que parecia apenas reservado aos governadores. No entanto, o eleitorado não muda assim tanto em tão pouco tempo. E a experiência política de governação estadual ainda deve pesar entre o eleitorado. Obama e Joe Biden são senadores. McCain também. Sarah Palin é a única candidata nas duas duplas concorrentes que possui experiência governativa. É esse o principal trunfo da escolha de Palin para a vice-presidência: a experiência executiva e não apenas legislativa da candidata. Uma escolha inteligente.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Por esse país do corisco: Albufeira

Isto agora é assim?

O Bloco de Esquerda vai usar gratuitamente as excelentes instalações públicas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto para o seu “Fórum de Ideias Socialismo Século XXI”. A FPCE é uma das mais significativas sedes ideológicas da “esquerda da esquerda” no Porto. Por isso, a escolha do local para a reentré desse partido não me surpreende minimamente. Contudo, achava mais sensato se toda essa gente que de alguma maneira se revê no BE alugasse um velho teatro para o tal “fórum de ideias”, aliás, o local natural de ajuntamentos de partidos de extrema-esquerda. E por maiores que sejam as simpatias ou afinidades ideológicas e partidárias existentes entre um corpo docente e um partido político; nunca uma faculdade deve fazer o papel que compete a uma distrital partidária. Mas, afinal desde quando é que passou a ser normal uma faculdade pública além de ceder as suas instalações ajudar a organizar (com apoio logístico e com vários docentes como oradores e os restantes como plateia ou claque) um evento político partidário dum só partido?

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Os Paços de Celas (Eça de Queiroz)

Os Paços de Celas, sob a sua aparência preguiçosa e campestre, tornaram-se uma fornalha de actividades. (…). À noite, na sala de jantar, moços sérios faziam um whist sério: e no salão, sob o lustre de cristal, com o Figaro, o Times e as revistas de Paris e de Londres espalhadas pelas mesas, o Gamacho ao piano tocando Chopin ou Mozart, os literatos estirados pelas poltronas – havia ruidosos e ardentes cavacos, em que a Democracia, a Arte, o Positivismo, o Realismo, o Papado, Bismark, o Amor, Hugo e a Evolução, tudo por seu turno flamejava no fumo do tabaco, tudo tão ligeiro e vago como o fumo. E as discussões metafísicas, as próprias certezas revolucionárias adquiriam um sabor mais requintado com a presença do criado de farda desarrolhando a cerveja, ou servindo croquetes.

Eça de Queiroz in “Os Maias”, p. 94.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Por esse país do corisco: Estremoz


Escrito com Cabeça (12)

«Portugal é o único país do mundo que inventou uma expressão – “o gajo porreiro” - com o objectivo de transformar vícios em virtudes. O porreirismo muda o nome às coisas. Por exemplo, nunca há incompetentes em Portugal; só temos coitadinhos. O professor porreiro é aquele que não marca trabalhos de casa. Ou seja, um professor que seria considerado desleixado em qualquer parte da Europa sobe à categoria de “gajo porreiro” em Portugal. Com esta inversão de valores, os portugueses conseguem viver bem com a sua preguiça e incompetência, visto que estas são as virtudes do “porreiraço”. Por outro lado, o porreirismo também transforma virtudes pessoais em pecados colectivos. Com muita facilidade, um indivíduo trabalhador desce ao estatuto de “lacaio do chefe”. Na faculdade, o aluno aplicado que recusa a palhaçada dos trabalhos de grupo é encarado como “alguém que quer ser melhor do que os outros”. Esta expressão, tão portuguesa, reflecte a perversão moral do porreirismo: uma virtude pessoal - o desejo de superação individual - passa à condição de defeito social.»
Henrique Raposo no Expresso (23-8-2008)

domingo, 24 de agosto de 2008

Exemplo da falta de qualidade na imprensa escrita regional. Agradecidos ao Diário de Aveiro.

Escrito com Cabeça (11)

«O mal-estar que sentimos nestes dias devia servir para alguma coisa. Por exemplo, para que nas escolas o “direito ao sucesso”, de que falou um ensandecido (ir)responsável, seja substituído por uma cultura de exigência, rigor e avaliação que distinga e valoriza os melhores e motive os piores para o valor do trabalho. (…)
Por exemplo, para que passe a aceitar – sem adjectivos que afinal recusam o conceito – e a valorizar as elites, os que se libertam da lei da morte que falava Camões. É que não podemos querer formar campeões se toda a nossa cultura é contra a existência de campeões , contra a distinção dos melhores, contra a selecção e contra o prémio.»
José Miguel Júdice no Público (22-8-2008)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quando nem o ouro olímpico garante uma primeira página...

Toda a imprensa diária (desportiva, generalista e até regional) se rendeu a Nélson Évora pela sua medalha de ouro olímpica no triplo-salto em Pequim. Justo. Vejam, a título de exemplo, as capas de A Bola, Diário de Notícias e d'O Primeiro de Janeiro.

A Bola (22-8-2008)

Diário de Notícias (22-8-2008)

O Primeiro de Janeiro (22-8-2008)

Contudo, uma medalha de ouro olímpica não é suficiente façanha para ter direito a honras de primeira página no jornal Record. Que não foi capaz de abdicar de uma única capa que seja dedicada ao Benfica. Segundo a direcção editorial desse jornal o facto de Reyes garantir que "dará tudo para ser campeão" pelo SLB merece prioridade de destaque de capa em detrimento da quarta medalha de ouro conquistada por atletas portugueses em jogos olímpicos. Só de pensar que isso pode garantir mais vendas em banca mete nojo.

Record (22-8-2008)

Ai populismo...

Manuela Ferreira Leite respondeu aos críticos da sua oposição “introspectiva” pedindo a demissão do ministro da Administração Interna por este não ter sido capaz de suster o aumento da criminalidade violenta em Portugal. A “monarca” de Rui Rio cedeu pateticamente ao populismo. Mas consegui aparecer nas segundas partes dos telejornais.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Os filhos açorianos do Estado-social

«Quase um terço da população dos Açores vive do Rendimento Social de Inserção, uma espécie de esmola institucional que, para além de criar maus hábitos de absentismo laboral, incrementa a "malandragem" e cria dependências do Estado/Região pouco benéficas para a democracia. Não interessa, obviamente enquanto houver dinheiro para gastar, aos políticos no poder reduzir o número de beneficiários desse subsídio.»
Nuno Barata no Fôguetabraze, 9 de Agosto de 2008

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Filmes do Corisco (A Queda, Hitler e o fim do III Reich)

Revi o filme A Queda, Hitler e o fim do Terceiro Reich porque este tipo de filmes realizados com base em testemunhos históricos verídicos e em personagens reais requerem invariavelmente mais que um primeiro visionamento. Há sempre alguma coisa que não é imediatamente perceptível. E nunca é tempo perdido rever um filme que, inegavelmente, nos ajuda a compreender o passado. Para quem como eu dá aulas é ainda um útil contributo documental para explicar esse período tão decisivo como trágico da história europeia e mundial.
O filme relata os momentos finais da agonia alemã em Berlim. Aliás toda a acção desenrola-se no bunker onde Hitler permaneceu até ao suicídio e só depois de compreender, com desmedida dificuldade, que tudo estava perdido, mas sempre sem aceitar capitular nem sequer negociar condições de rendição com os Aliados. Evitou metodicamente dar o prazer aos adversários, especialmente Estaline, de o encarcerarem e o condenarem à morte. Depois de dar tantas ordens para matar todo o tipo de gente, desde judeus e ciganos passando por populações dos países ocupados até acabar a mandar matar os oficiais do seu próprio exército (ora por incompetência ora por traição, ou suposta traição) além de civis alemães. A sua última ordem foi matar-se a si próprio, acautelando, todavia, que o seu corpo seria queimado com vários litros de gasolina para evitar que este fosse “exposto num museu russo”. Assim cai um inabalável fanático que foi doentio, cruel e impiedoso até ao último segundo de vida.
No entanto, o filme mostra uma faceta humana do ditador alemão. Não o apresenta apenas como um doente mental obstinado com uma utopia execrável. Mas também como um homem, como todos os outros, mas um homem fanático que não teve a capacidade nem a humildade para reconhecer qualquer erro seu. A culpa do desaire, segundo Hitler, foi de tudo e de todos menos dele. Eva Braun é retratada como uma mulher emancipada, mas refém da figura daquele com que haveria de casar instantes antes de partilhar não a vida mas a morte. Goebbels e a sua esposa Magda personificaram os mais indefectíveis e irracionais fanáticos. Seguros que o III Reich não sobreviveria suicidaram-se depois de matarem os seus seis filhos. “Não há futuro sem o Nacional-Socialismo”, disse Magda Goebbels.
Baseado na obra Inside Hitler’s Bunker: The Last Days of the Third Reich de Joachim Fest e nas memórias de Traudi Junge, dactilógrafa do ditador nazi, é um filme de visionamento e reflexão obrigatórios para todos os que se recusem a viver a vida sem se esforçarem para a compreender.

domingo, 17 de agosto de 2008

Um novo partido só para o Alberto João

Alberto João Jardim decepcionou quem esperava que, uma vez mais, a Festa do Chão da Madeira fosse um festival de insultos políticos ou pessoais ou ambos ao seu melhor estilo. Ele próprio percebeu que não satisfez com o singelo pagode que proporcionou. Ontem, em nova festa do mesmo nível, teve nova oportunidade para voltar aos ecrãs de TV ou páginas dos jornais de que tanto gosta pelas mesmas razões que apareceu anteriormente: bocas foleiras ao estilo siciliano com tons latino-americanos. Desta vez não desaproveitou essa nova ocasião para, ao seu estilo, brilhar. No meio dos habituais urros, surge uma ideia, reciclada mas sempre uma ideia: a da criação dum novo partido político. Talvez um em que Alberto João Jardim seja eleito líder por aclamação sem se sujeitar a eleições internas, como gostaria de ter sido nas últimas directas do PSD. Acho boa a ideia. Podia até não ter tantos votos como isso fora da Madeira. Mas pagode haveria com fartura. Espero que Alberto João avance, apenas ele pode limpar o PSD de todos os que nada interessam ao partido juntando-os num novo “partido social federalista” feito à sua medida, composto por pessoas que o tenham como referência, para que apenas ele possa mandar nele.

sábado, 16 de agosto de 2008

Gravado na Rocha

"Quando privais alguém de tudo, ele deixa de estar sob o vosso poder. Ele volta a ser inteiramente livre." A. Soljenitsin in O Primeiro Círculo (1968) sob o Gulag soviético.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Festa do Pontal

Manuela Ferreira Leite faz muito bem em não ir à Festa do Pontal, na Quarteira (Algarve). Com o tom do ambiente marcado por Mendes Bota (inchado com a sua recente vitória eleitoral sobre Macário Correia para a distrital) e pela aquela sua singular concepção de regionalismo, ou seja um peculiar nacionalismo paroquial, nacionalismo algarvio (!?), Ferreira Leite, caso marcasse presença, só tinha a perder com o sinal que daria de uma colagem a um nível de política grau zero. Por isso esteve bem em não ir.
Mas fico com uma dúvida. Será que a postura da líder do PSD teria sido outra caso Macário Correia tivesse ganho as eleições para a distrital do PSD-Algarve?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Contra a saudade (DA, 8-8-2004)

Numa casa verde que eu conheci via todos os dias o Atlântico. Essa casa verde não foi construída por mais um dos barões do império que povoaram boa parte da costa açoriana com casarões opulentos, símbolos duma grandeza hoje irremediavelmente perdida. Não. A casa verde não foi construída à custa da exploração dos camponeses açorianos que desde a descoberta das ilhas até ao fim do império construíram e reconstruíram inúmeras habitações destinadas a perpetuar a glória e magnificência dos senhores das terras açorianas.
A casa verde foi construída exactamente por um desses camponeses que, assim como os seus pais e avós, foi espoliado por essa classe inerte de proprietários que mais não fazia além de olhar os lindos e férteis campos açorianos apinhados de humildes trabalhadores que vendiam a dignidade, e por vezes a honra, em troca duma miserável subsistência, e que somente a pele branca os distinguia dos negros que pelo império fora roçavam as roças de café para fortuna dos ausentes latifundiários da metrópole.
Esta casa verde foi construída através da única maneira que um humilde camponês açoriano a poderia fazer erguer: imigrar para posteriormente regressar, trazendo consigo todo o dinheiro que lhe foi possível amealhar em troca de décadas de trabalho árduo, de mazelas físicas e mentais e, não menos importante, de… saudades da terra e da família distante.
Sem magnificência, mas com uma simplicidade encantadora a casa verde foi erguida, habitada e vivida por quem tanto a mereceu. Nela reatou-se um casamento e uma família tristemente separada pela crueldade da vida. A casa pertenceu e foi merecida por todos os que nela viveram, porque ora com o trabalho ora com a saudade todos contribuíram para que ela existisse. E existiu.
Foram certamente inúmeros os camponeses açorianos que ao longo de séculos trabalharam e trabalharam com um horário ditado pelo sol, sem direito a férias nem a fins-de-semana, ou a qualquer espécie de subsídio ou reforma. E, ainda mais grave, sem que em altura nenhuma das suas vidas pudessem também eles sonhar em erguer a sua casa que tanto podia ser verde como amarela, azul ou cor-de-rosa. O importante era que só a eles e aos seus pertencesse.
A opulência dos casarões dos senhores das terras açorianas e do restante império contrastou e existiu para fazer contrastar a realidade de quem manda e de quem só lhes resta obedecer, de quem explora e de quem é explorado, de quem viveu com abundância junto das suas famílias e de quem viveu miseravelmente junto das suas.
Apesar do mar que banha as ilhas ser o mesmo, as maneiras de olhá-lo não eram as mesmas. Para quem possuía a terra, ou seja a riqueza, o Atlântico limpo e cristalino significava o triunfo pessoal e familiar, foi por ele ou através dele que se fizeram fortunas, conversões a Cristo, comércio, guerra, tráfico de escravos e todo o tipo de explorações humanas devidamente recompensadas com umas boas propriedades com vista sobre o mar, e com o garante que a exploração dos que nela trabalhavam. Mas, o humilde camponês que olhava o mar, via o sonho de uma vida sem exploração onde pelo suor do seu trabalho pudesse livremente construir a sua casa verde.
Eu conheci uma casa verde que nasceu desse sonho. Nela havia um miradouro sobre o mar, onde com a satisfação e a sensação de sonho cumprido também o humilde camponês podia sentir-se um senhor das terras, mesmo que as suas terras não fossem mais do que um simples quintal com um miradouro no fundo. Mas era seu, e aquele miradouro valia tanto como a escritura, era a prova de que o sonho era possível. Nele podia ver todos os dias o mar que atravessou em busca de tornar realidade o sonho e regressou para concretizar esse sonho de erguer a sua casa verde.
A casa verde não é nenhum palacete, mas é imaculada porque não foi construída à custa da exploração de ninguém, mas sim por quem foi explorado por alguém, algo que nenhum palacete das costas açorianas construído até ao século XX se pode orgulhar. Aquilo que distingue a casa verde de um desses palacetes é o simples facto de que não estar suja de sangue alheio, apenas molhada pelo suor de uma vida de trabalho de um só homem.
Foram muitos os que sonharam, mas foram muitos menos os que realizaram o sonho. Foram muitos os que olharam o mar, mas foram muito menos os que o atravessaram e regressaram com o sonho na mala, depois de uma vida vivida contra a saudade.
Dedico estas linhas a todos os quantos sonharam e que pelo sonho viveram e que por ele morreram. Descansem em paz.

Por Colin Marques, publicado no Diário dos Açores em 8 de Agosto de 2004

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Soljenitsin segundo Nuno Rogério

Entre tudo o que foi dito e escrito sobre Soljenitsin este foi talvez o comentário que mais gostei: «Corajoso e soberbo, numa escrita despojada e potente, Soljenitsin revelou ao mundo o que era o inferno no paraíso socialista, numa altura em que cães de fila, idiotas úteis, companheiros de caminho e ingénuos consideravam a URSS o "sol da Terra"».
Nuno Rogério (JN, 7-8-2008).

Onde estão os pacifistas?

A guerra entre a Geórgia e a Rússia vai adquirindo proporções preocupantes. Enquanto isso, os pacifistas estão pacificamente pacíficos em relação ao assunto. Nem bufam. Quem é movido apenas pelo anti-americanismo primário defronta-se com este tipo de paradoxos. Muitos dos que se afirmam pacifistas são apenas esquerdistas frustados que fazem do ódio aos EUA a sua única razão de viver. Estas guerras que vão surgindo um pouco por todo o mundo revelam isso mesmo de forma cabal. Para essa gente, o pacifismo é somente um meio de atacar os EUA. O humanismo não é para aqui chamado.

Educação: zurro de burro IV

«Numa escola que deixou de ser elitista, por via da democratização do ensino, os níveis de aprendizagem e de aferição do conhecimento têm ou não de ser padronizados neste contexto? Numa escola que se tornou de massas, os exames terão de ser o referencial duma capacidade média ou terão de ser instrumentos de processos de elitismo? Os pontos de exame devem ser concebidos para alunos médios ou excepcionais?»
Zurrado por Paquete de Oliveira no Jornal de Notícias (31-7-2008)

domingo, 10 de agosto de 2008

Existem integridades e integridades territoriais

Assisto que o Ocidente, com os EUA e a França à cabeça, estão muito preocupados com o "respeito" pela "integridade territorial" da Geórgia. Contudo, aquando da independência unilateral do Kosovo não me recordo de nenhum líder ocidental que mostrasse "respeito" pela "integridade territorial" da Sérvia. Como se vê, existem diferentes respeitos pelas integridades territoriais. Depende de quem é a integridade territorial em causa.

Ainda sobre a declaração de Cavaco

Quem leu a imprensa escrita encontra entre a generalidade dos colunistas várias críticas a Cavaco Silva sobre a "oportunidade" da sua declaração ao país sobre o Estatuto Administrativo dos Açores, mas quase nenhuma dessas críticas incide sobre o conteúdo da declaração. O que revela que o nível da opinião publicada está longe de ser o melhor. Cavaco exagerou no estilo (extravagante, tipico da política interna norte-americana) da sua declaração, mas a gravidade das suas preocupações não são um exagero.

sábado, 9 de agosto de 2008

Humanismo de esquerda

Há muito cozinhada em banho-maria eclodiu a guerra na Ossétia do Sul - a região separatista georgiana pró-Russia. Mais uma vez, da "esquerda da esquerda" nem uma palavra. Os russos sabem como fazer uma guerra: comunicação social fora, exército dentro. O resto do país assiste estupidamente à guerra pelo telejornal enquanto aguarda que o jantar esteja pronto, de preferência antes que começe a novela da TVI. Contudo esta guerra não vai estragar o verão de ninguém. Como não estão os norte-americanos no conflito então não existe conflito. Londres não terá novamente 2 milhões de pessoas na rua como teve aquando da guerra do Iraque. A esquerda é tão estúpida e burra que o mundo só lhe interessa quando serve o seu propósito de denegrir a democracia liberal (ou neo-liberal, ou neo-capitalista) dos EUA. Mais nada. Darfur, Ruanda, todo o mundo islâmico, ect., não tem interesse, mesmo que sejam mortos centenas e centenas de milhares de seres humanos. Estão 100% concentrados nos 267 prisioneiros de Guantánamo. Nada mais lhes interessa. É este o humanismo da esquerda.

sábado, 2 de agosto de 2008

Poema de la cantidad

Pienso en el parco cielo puritano
de solitarias y perdidas luces
que Emerson miraría tantas noches
desde la nieve y el rigor de Concord.
Aquí son demasiadas las estrellas.
El hombre es demasiado. Las innúmeras
generaciones de aves y de insectos,
del jaguar constelado y de la sierpe,
de ramas que se tejen y entretejen,
del café, de la arena y de las hojas
oprimen las mañanas y prodigan
su minucioso laberinto inútil.
Acaso cada hormiga que pisamos
es única ante Dios, que la precisa
para la ejecución de las puntuales
leyes que rigen su curiosos mundo.
Si así no fuera, el universo entero
sería un error y un oneroso caos.
los espejos del ébano y del agua,
el espejo inventivo de los sueños,
los líquenes, los peces, las madréporas,
las filas de tortugas en el tiempo,
las luciérnagas de una sola tarde,
las dinastías de las araucarias,
las perfiladas letras de un volumen
que la noche no borra, son sin duda
no menos personales y enigmáticas
que yo, que las confundo. no me atrevo
a juzgar la lepra o a Calígula.

Jorge Luis Borges

Vos estis sal terra |

 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...