sábado, 29 de março de 2008

Henry Kamen, Portugal e Filipe I

O historiador britânico Henry Kamen, especialista em história europeia, lançou o livro "Filipe I" uma biografia sobre o rei que governou Espanha e Portugal em simultâneo dando inicio ao que os historiadores portugueses designam como "Domínio Filipino".
No «Diário de Notícias», de 13 de Março, deu uma entrevista que não merece o esquecimento tendo em conta a pertinência das afirmações que proferiu, falando sem rodeios de Portugal e dos portugueses, mas não só. Deste modo destacamos algumas das suas contundentes declarações.
Sobre José Saramago: "Só disse [que Portugal e Espanha acabarão por unir-se] porque tem uma boa casa e vive em Espanha e porque ganha mais dinheiro em Espanha do que em Portugal. Saramago está subornado com dinheiro espanhol."
Salazar e Franco: "A Península Ibérica teve dois dos ditadores mais desastrosos da Europa, Salazar e Franco. O único êxito de Salazar e Franco foi deixarem os seus países no esquecimento, no passado."
Cardeal D. Henrique: "Era um fantoche manobrado por outros, não podia sequer falar sem autorização. O melhor que fez foi morrer, porque estorvava todas as soluções e não apresentava nenhuma. D. Henrique não tinha nada. Era um nada, um acidente infeliz."
Nesta entrevista Kamen fala sobre uma interessante ideia, que no entanto não desenvolve: Lisboa como capital de Espanha. O que Filipe I parece ter pretendido, mas a nobreza espanhola não embarcou na ideia. Contudo, talvez a nossa historiografia devesse estudá-la. Fica a dica.
Sobre os portugueses, não deixa de ser curioso que Henry Kamen os considere "mais pró-espanhóis do que bascos e catalães."
Valeu mesmo a pena ler esta entrevista. O livro já se encontra à venda e desengane-se quem julgar que vai encontrar uma obra com um estilo tão erudito que só pode ficar confinada aos círculos académicos. Foi escrito "a pensar no público", segundo o autor.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O poder vicia

Quem, como eu, pensou que se tinha visto finalmente livre dele enganou-se. Narciso Miranda voltou, e pretende regressar à presidência da Câmara Municipal de Matosinhos. O poder vicia de tal maneira que nem se sente os anos, mesmo décadas passar. O Clube Morais, Valentim, Felgueiras & Companhia passa a ter novo sócio-efectivo: Narciso, o Senhor de Matosinhos.
Com isto, o PS-Matosinhos está a ferro e fogo. Cavadas as trincheiras preparam-se as hostes de Narciso Miranda (acolitado por Alexandre Lopes) e Guilherme Pinto. O baixo nível, tipo "lota", voltou com ex-Senhor de Matosinhos e já há acusações de traição, deslealdade - o costume.
Aguardo por uma sondagem credível o quanto antes. Até lá, não vale a pena grandes comentários. Apenas este: e o PSD-Matosinhos, já há candidato? É que enquanto não avança com ninguém nesta extraordinária oportunidade de se assistir a um posicionamento do eleitorado nunca antes visto, pode ser que depois já não exista eleitorado para três, mas só para dois candidatos. Narciso Miranda e Guilherme Pinto.

terça-feira, 25 de março de 2008

Ditosa Pátria de Jorge de Sena



Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não!

Jorge de Sena

segunda-feira, 24 de março de 2008

Magdi Allam


Magdi Allam, ex-muçulmano convertido ao catolicismo, fala sem rodeios do Islão: "a raiz do mal é inerente a um islão psicologicamente violento e historicamente conflituoso". O jornalista de 56 anos, natural do Cairo, afirma aliviado que "se libertou do obscurantismo de uma ideologia que legitima a mentira e a dissimulação, a morte violenta e a submissão à tirania".
Os meus sinceros parabéns.

Bento XVI volta a não vacilar ante o Islão


Bento XVI volta a não "baixar as calças" - como diria o antigo presidente do Sporting, Dias da Cunha. Depois de não ter pedido desculpa pelo seu discurso na Universidade de Ratisbona na Alemanha que, embora escudado numa citação do imperador bizantino Manuel II, disse que do Islão só se espera o pior, e de ter ido a Istambul debaixo de enormes protestos e ameaças de morte visitar o Patriarca de Constantinopla numa altura que corria uma petição na "rua islámica" para que o patriarcado fosse mandado para a Grécia; agora baptiza Magdi Allam, director-adjunto do Corriere della Sera, ex-muçulmano moderado e corajoso crítico do Islão, também jurado de morte pelos crentes do Alá e do seu querido Profeta.
O Islão não contava certamente com um Papa tão corajoso.

Biografia de Eugénio Pacheco (1863-1911) - republicano e autonomista açoriano

Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro (1863-1911) nasceu e morreu em Ponta Delgada tendo dedicado a sua vida ao ensino, ao jornalismo e à política – sem que nunca tenha sido político. Pertencia a uma das linhagens mais reputadas de sempre dos Açores: a família Canto, sendo sobrinho de José, Eugénio e Ernesto do Canto.
Depois de estudar Filosofia em Coimbra e em Paris regressa aos Açores onde foi professor no Liceu Nacional de Ponta Delgada (actual Escola Secundária Antero de Quental), mas foi no jornalismo que realmente se evidenciou e deu a conhecer o seu carácter irreverente.
Esta passagem, escrita por Aníbal Cymbron Barbosa num artigo biográfico sobre Eugénio Pacheco, é por demais elucidativa sobre quem foi este homem: «carácter de antes quebrar que torcer; encarnação viva duma personalidade fortemente vincada; fulguração radiante duma inteligência vigorosa; erudição vasta e profunda; paladino estrénuo desta terra; lição completa de desinteresse material absoluto; exemplo modelar da modéstia, do desassombro e da harmonia perfeita entre o ideal e a acção».
No séc. XIX existiam dois tipos de jornalismo escrito: o jornalismo “literário” e o jornalismo de “combate”. Eugénio optou sempre pelo segundo. Os seus escritos foram sempre de combate ora ao sistema monárquico (já decadente) ora ao centralismo de Lisboa. Tanto num combate como no outro sempre se fez valer do seu enorme discernimento para atacar efusivamente (recorrendo mesmo ao insulto) o moribundo regime monárquico e o centralismo de Lisboa encarnado na figura do então Presidente do Conselho de Ministros, o também açoriano Hintze Ribeiro.
Como jornalista a sua actividade foi intensa, tendo sido director e fundador de vários jornais, mas foi enquanto director do «Autonomia dos Açores» que teve um contributo decisivo para a autonomia dos Açores.
Tal como hoje, também no sistema político liberal do séc. XIX haviam dois partidos políticos hegemónicos: um de centro-direita (Partido Regenerador) e outro de centro-esquerda (Partido Progressista). Só que naquele tempo ambos alternavam entre si o poder, através de uma rede de clientelismo, assente no caciquismo eleitoral, que percorria todo Portugal, os Açores e a Madeira. O monopólio destes dois partidos e das respectivas clientelas no controlo, em regime de alternância, do Governo e dos lugares do Estado a nível central e regional levou a que politicamente, ideologicamente e socialmente ambos se tornassem indistintos. O poder central ou local era um exclusivo de uma oligarquia burocrática, intimamente ligada aos grandes interesses ligados à terra, aos meios financeiros e ao comércio.
Foi neste contexto que nos Açores nasce um movimento em prol dos açorianos que se insurge contra este estado em que se encontrava a política portuguesa: o primeiro movimento autonómico açoriano. Homens como Aristides Moreira da Mota, Gil Mont’Alverne Sequeira e Eugénio Pacheco, entre outros, definiram como meta da sua actividade conseguir eleger deputados autonomistas à assembleia nacional pela Distrito de Ponta Delgada. E conseguiram-no, vencendo inclusive as eleições legislativas de 15 de Abril de 1894 ao Partido Regenerador, de Hintze Ribeiro, com a eleição de três deputados autonomistas contra dois regeneradores.
O jornal oficial do movimento, ou seja o seu veículo de propaganda, era o «Autonomia dos Açores» e durante a campanha eleitoral foi dirigido por Eugénio Pacheco, o qual teve uma prestação de relevo para que esse inédito resultado eleitoral fosse alcançado.
Foram nestas eleições que pela primeira vez os muitos açorianos uniram-se a, quase, uma só voz contra o centralismo de Lisboa. A ideia de uns Açores autónomos ganhou finalmente consistência política e nunca mais morreu.
É por isso que não nos devemos esquecer de quem lutou, em todas as épocas, para tornar possível a actual realidade autonómica açoriana. E é por isso que não nos devemos esquecer de homenagear quem o merece. E foi por isso que vos contei esta história deste homem.
Publicado na integra no «Diário dos Açores» de 6 de Junho de 2004.

sábado, 22 de março de 2008

Gravado na Rocha

"As ideias dos economistas e filósofos políticos tanto quando estão certos como quando estão errados, são mais poderosas do que julgamos." John Maynard Keynes.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Para reflectir nesta Sexta-feira Santa

«A Garantia de liberdades éticas iguais exige a secularização do poder do estado, mas proíbe a universalização política da concepção secularista do mundo. Os cidadãos secularizados, na assunção do seu papel de cidadãos, não devem negar liminarmente um potencial de verdade às concepções religiosas nem por em causa o direito de os concidadãos crentes oferecerem contributos, em linguagem religiosa, para as discussões públicas.»
Jürgen Habermas

quarta-feira, 19 de março de 2008

Quem Morre? - Poema de Pablo Neruda

Este poema demonstra toda a dimensão de Pablo Neruda que, no meu entender, é o maior poeta do século XX - Fernando Pessoa fica logo a seguir.


Quem Morre?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não houve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou quem não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre
que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Pablo Neruda

terça-feira, 18 de março de 2008

Gravado na Rocha

"Nesta vida nem sempre se deve ser de coração aberto, e as verdades que mais nos importam dizem-se sempre até ao meio." Umberto Eco.

Pós-Socialismo vs Neo-Socialismo

No Diário de Notícias de hoje é curiosa a seguinte ligação que se pode estabelecer entre um notícia e um artigo de opinião de Mário Soares - que insiste em se autopromover à nação que já está farta de o aturar, como se viu última eleição presidencial.
Notícia: enquanto o Governo Socialista, na figura do MAI, Rui Pereira, toma a sensata e inteligente medida de punir criminalmente a apologia ao terrorismo, o Dr. Mário Soares delira novamente sobre o Iraque - assunto que ocupa a quase totalidade do seu pensamento.
A ligação entre notícia e artigo de opinião pode ser lida deste modo: a punição da apologia ao terrorismo visa exclusivamente cortar veleidades futuras aos muçulmanos já residentes e aos que hão de vir residir em Portugal. Aliás os únicos que, sem pudor, fazem apologia ao terrorismo mesmo em capitais europeias como Londres e Paris.
Gosto de chamar as coisas pelos nomes, e este governo parece ter percebido que o islamismo é um problema que, muito mais depressa que muitos imaginam, pode chegar a Portugal. Nenhum governo responsável pode descurar de dar luta a esse "cancro" da sociedade ocidental que é o fundamentalismo islámico. Nada como prevenir. E esta é uma excelente medida do Governo PS, que assim se demarca da esquerda radical ou neo-socialista.
No entanto, essa esquerda neo-socialista que tem em Mário Soares o seu porta-estandarte, no seu artigo de opinião volta a não ver nenhum perigo no fundamentalismo islámico como difusor universal de terrorismo. Aliás, Mário Soares considera que: "as pessoas comuns reclamam e têm razões em reclamar", referindo-se aos terroristas iraquianos que só ontem e hoje mataram cerca de 100 pessoas. Este felizmente ex e não Presidente da República mete-me dó.

Gravado na Rocha

"Temos um dever moral fundamental de aumentar o nosso entendimento e conhecimento de tudo o que pudermos." Baruch Espinosa.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Saúde Alberto

O objectivo deste blogue é chatear, incomodar, aborrecer e mesmo ofender as pessoas até ao insuportável. Para o efeito nada como começar na data em que se comemora (na Madeira) os 30 anos de Alberto João Jardim enquanto Presidente do Governo Regional.

Vos estis sal terra |

 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...