domingo, 4 de outubro de 2009

A Obsessão do Fogo

“A Obsessão do Fogo” é uma obra que resulta de um diálogo aberto entre dois dos maiores pensadores, romancistas e bibliófilos da actualidade: Umberto Eco e Jean-Claude Carrière. Não se trata de uma obra literária ou de um ensaio, mas da transcrição de uma conversa informal a dois, realizada em Paris e mediada por Jean-Philippe de Tonnac, sobre livros. Ou seja é um livro que nos fala sobre o livro. Suporte que nas palavras de Eco “é como a colher, o martelo, a roda ou o cinzel. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.” (p. 20).
Num diálogo erudito, fascinante e enriquecedor, Eco e Carrière descrevem a trajectória dos vários suportes do conhecimento nos últimos dois mil anos de história. Ambos os pensadores começam o seu diálogo concordando que o livro não morrerá suplantado pelo e-book. Debatem sobre o porquê de alguns livros chegarem até nós e outros não. E porque são alguns livros e autores esquecidos e outros não. Do mesmo modo que se debruçam sobre as motivações que levaram à censura e à destruição do livro enquanto suporte do saber, desde a damnation memoriae no Império Romano passando pelas purgas literárias da inquisição, do nazismo e do comunismo.
A importância do saber e o prazer de coleccionar e viver rodeado por livros são também abordados neste extraordinário diálogo assim como o que fazer dessas colecções, construções de uma vida, após o desaparecimento dos coleccionadores. Além do medo de se verem privados destas frutuosas bibliotecas particulares ainda durante a vida, especialmente se destruídas por um incêndio do que resulta o título do livro: “A Obsessão do Fogo”. Todos os amantes da leitura, do saber, do conhecimento, da cultura e do livro encontram nesta obra ingredientes suficientes para uma enriquecedora e deliciosa leitura.
Nota negativa para a capa, onde o nome de Jean-Claude Carrière aparece como se de um autor secundário se tratasse, quando na realidade é Carrière quem tem uma maior preponderância durante todo o diálogo. O oportunismo publicitário da editora Difel no destaque do nome de Umberto Eco (que chega a ser superior ao próprio título do livro) é lamentável e injusto. Eco vende certamente mais do que Carrière, mas será que a colocação do nome dos dois autores num plano semelhante se traduzira em menores vendas? Como diria o Herman, não havia necessidade…

Vos estis sal terra |

 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...