terça-feira, 26 de agosto de 2008

Os Paços de Celas (Eça de Queiroz)

Os Paços de Celas, sob a sua aparência preguiçosa e campestre, tornaram-se uma fornalha de actividades. (…). À noite, na sala de jantar, moços sérios faziam um whist sério: e no salão, sob o lustre de cristal, com o Figaro, o Times e as revistas de Paris e de Londres espalhadas pelas mesas, o Gamacho ao piano tocando Chopin ou Mozart, os literatos estirados pelas poltronas – havia ruidosos e ardentes cavacos, em que a Democracia, a Arte, o Positivismo, o Realismo, o Papado, Bismark, o Amor, Hugo e a Evolução, tudo por seu turno flamejava no fumo do tabaco, tudo tão ligeiro e vago como o fumo. E as discussões metafísicas, as próprias certezas revolucionárias adquiriam um sabor mais requintado com a presença do criado de farda desarrolhando a cerveja, ou servindo croquetes.

Eça de Queiroz in “Os Maias”, p. 94.

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