segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Escrito com Cabeça (12)

«Portugal é o único país do mundo que inventou uma expressão – “o gajo porreiro” - com o objectivo de transformar vícios em virtudes. O porreirismo muda o nome às coisas. Por exemplo, nunca há incompetentes em Portugal; só temos coitadinhos. O professor porreiro é aquele que não marca trabalhos de casa. Ou seja, um professor que seria considerado desleixado em qualquer parte da Europa sobe à categoria de “gajo porreiro” em Portugal. Com esta inversão de valores, os portugueses conseguem viver bem com a sua preguiça e incompetência, visto que estas são as virtudes do “porreiraço”. Por outro lado, o porreirismo também transforma virtudes pessoais em pecados colectivos. Com muita facilidade, um indivíduo trabalhador desce ao estatuto de “lacaio do chefe”. Na faculdade, o aluno aplicado que recusa a palhaçada dos trabalhos de grupo é encarado como “alguém que quer ser melhor do que os outros”. Esta expressão, tão portuguesa, reflecte a perversão moral do porreirismo: uma virtude pessoal - o desejo de superação individual - passa à condição de defeito social.»
Henrique Raposo no Expresso (23-8-2008)

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