quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O calcanhar de Louçã

Francisco Louçã acredita que um dia fará do Bloco a força política mais representativa da esquerda portuguesa, substituindo o PS. Louçã também acredita que o Bloco será um dia o vencedor de umas eleições legislativas, conseguindo, desse modo, o maior feito da extrema-esquerda nas democracias ocidentais.
Acredito na sinceridade de Francisco Louçã quando afirma não querer coligar-se com José Sócrates depois das eleições de 27 de Setembro. Contudo, se o PS não conseguir a maioria absoluta e pretender uma coligação com o Bloco provavelmente não restará outra solução a Louçã que não seja a de se coligar com os socialistas e assim formar o único governo da UE que conta com a presença da esquerda radical.
A razão pela qual não resta outra solução senão a coligação pós-eleitoral a Louçã é que o Bloco já começa a ter uma clientela que necessita de ser alimentada. Os militantes do Bloco são funcionários públicos, jovens e adultos frustrados sem emprego ou com emprego precário, além do tipo de gente sem valor nem sucesso que necessita desesperadamente do Estado para obter um lugar na mesa da classe média nacional. Havendo uma possibilidade de coligação, isto é, a atribuição de uns três ou quatro ministérios (com os respectivos institutos, delegações regionais, etc.) ao Bloco, a pressão dessa gente será tal que Louçã será, contra a sua vontade, obrigado a se coligar com Sócrates.
Trata-se de muitos tachos públicos. Uma oportunidade que, para essa gente, poderá ser a única de uma vida e que portanto não a pode desperdiçar sob nenhum pretexto, sobretudo moral. E Louçã, no alto da sua superioridade moral, terá que ceder às pretensões da sua faminta clientela. Caso contrário, tal como Aquiles foi derrubado depois de alvejado no seu calcanhar pelo incapaz príncipe Paris, também Louçã será derrubado pelos incapazes dos seus militantes caso lhes recuse o acesso a cargos públicos que tanto anseiam. O “coordenador” do BE, inteligente como é, depressa vai perceber o fascínio que o dinheiro exerce sobre as pessoas de esquerda.

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