terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Carnaval em Portugal

O modo como se comemora o carnaval em Portugal diz muito sobre aquilo que somos. Um povo ignorante e inculto, adepto da mediocridade, que copia despudoradamente tradições alheias e as reproduz com um singular mau gosto na sua ânsia desenfreada em gozar um (mais um) dia feriado, que independente do maior ou menor grau da comemoração não se aceita abdicar. Esta festa – com a excepção honrosa de Ponta Delgada onde realmente faz parte da tradição popular micaelense, sendo genuína e de bom gosto, como atestam os bailes de gala do Coliseu Micaelense – é estúpida, resultado de uma reprodução patética e grosseira do carnaval brasileiro conjugado com algumas das mais imbecis tradições provincianas ou com esse género menor de encenação que é o Teatro de Revista.
Localidades como Ovar, Mealhada, Torres Vedras ou Olhão, entre outras que sem pena me esqueci, aceitam o repto lançado pelo ridículo e saem à rua (de preferência a maior do sítio) em manadas disfarçados de “foliões” e “com calor”, apesar da massa de ar polar que atravessa o país. Em Olhão, alheios e indiferentes a essas questões que não percebem nem têm interesse em perceber da liberdade de informação, chega-se a produzir uma montagem de José Sócrates a tirar o microfone a Manuela Moura Guedes junto com o tristemente célebre lápis azul da anterior república, e, como disse um indigente mental entrevistado pela televisão, “acha engraçado”, enquanto outro suspira por ver “José Sócrates mascarado de Pai Natal!”. A estupidez chega ao ponto de se fazer um corso sob o tema: “Um Atentado da ETA em Portugal”, como em Torres Vedras.
Enquanto na televisão os jornalistas (uns por ignorância outros por esperteza) aproveitam para evidenciar o “lado profano” da festa, numa espécie de reconstrução histórica da identidade portuguesa sem cristianismo, na Madeira, Alberto João Jardim participa no “tradicional corso carnavalesco madeirense” (uma importação do pior que existe no Cont’nente pelo regime autonómico da Madeira) vestido de Vasco da Gama à procura de “descobrir Portugal” (sic)...
É muito mau para ser verdade, mas é verdade. Portugal consegue sempre confirmar a máxima de que pior é sempre possível. Mas é este o povo que temos, boçal, prosaico, manhoso, egoísta e sem personalidade. O mesmo povo que, com manha, sofreu calado uma ditadura de 48 anos junto com as novas gerações de ignorantes funcionais mais ou menos qualificados. Portugal é isto, e não aquilo que pessoas como eu gostariam que fosse. E isso é que dói.

3 comentários:

Paula Patrício disse...

Concordo com cada palavra.

Colin Mateus Marques disse...

Olá Paula. Obrigado pelo comentário. Agora dou menos atenção ao blogue e escrevo menos. Mas faço textos mais profundos.

Paula Patrício disse...

Sim, já tinha reparado.
Eu também não tenho publicado no meu com a mesma frequência que fazia nos últimos anos.
O Espelho do Corisco já faz parte das minhas leituras virtuais (se assim o podemos chamar) e, sempre que me é possível, acompanho-o.

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