quarta-feira, 3 de julho de 2019

Combatentes do Ultramar merecem um Memorial em Palmela

Na última Assembleia Municipal, realizada a 27 de junho, a Coligação Palmela Mais, por iniciativa o PSD, propôs ao Executivo camarário homenagear de forma pública e dignificante o esforço de guerra dos militares do Concelho que participaram na Guerra do Ultramar, que decorreu entre 1961 e 1975, com a construção de um Memorial num espaço público com visibilidade.
A proposta foi chumbada pela CDU e com as abstenções do PS, do Bloco e do MIM. Em suma, a iniciativa para a construção de um Memorial num local visível para fazer justiça e reconhecer o esforço dos combatentes do Concelho caiu por terra, tendo apenas sido votada favoravelmente pelo PSD e CDS.
Fica portanto registado para memória futura que os antigos combatentes da Guerra do Ultramar não têm um monumento com as características de um Memorial, isto é, algo que chama a atenção e é para sempre memorável, no Concelho porque a CDU, o PS, o Bloco e o MIM não o deixaram.
A propósito do feito, um membro eleito da CDU na Assembleia Municipal colocou a apreensiva questão: “um memorial seria para homenagear que combatentes?” À qual acrescentou uma inquietação: “mas lutaram combatentes de ambos os lados!” E ficamos esclarecidos quanto ao sentido de voto do Partido Comunista Português…
É nosso entendimento que, volvidos cerca de 44 anos do término do conflito, nas suas várias frentes de batalha, importa agora e antes que seja demasiado tarde, ou seja, enquanto ainda temos um número significativo de antigos combatentes com vida e saúde, ultrapassar preconceitos ideológicos e unir esforços focados naquilo que é verdadeiramente importante: homenagear os militares do Concelho que combateram na Guerra do Ultramar, respondendo a um esforço extraordinário que naqueles longos anos Portugal lhes pediu.
Que fique claro, embora não tenhamos ilusões que alguns não compreenderão ora por preconceito ideológico ora por disciplina partidária, que este Memorial não pretende ser uma homenagem à Guerra do Ultramar nem às motivações políticas e ideológicas daquela, mas repor justiça aos militares de Palmela que participaram no conflito, na sua esmagadora maioria sem qualquer ligação de simpatia com o regime salazarista e marcelista. Palmela deve-lhes isto. Contudo, compreendemos que muitos dos que conseguiram escapar à participação na Guerra, sobretudo indo viver ilegalmente para outros países ou ficando por cá na clandestinidade revolucionária, se possam sentir incomodados com esta homenagem.
Não obstante, é justo que não desistamos de homenagear que não desistiu de combater. E concordamos com Gabriel García Márquez quando sentenciou que “a memória elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado.”

Por Colin Mateus Marques (Jornal do Concelho de Palmela, 04/07/2019)

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