sábado, 9 de maio de 2009

Do Desejo (H. Hilst)

«Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade,
em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo.
E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo.
Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?»


Hilda Hilst (Do Desejo, 1992)

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