segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vale a pena perder tempo com Manuel Alegre

Estive a ler a entrevista de Manuel Alegre ao DN de domingo, o que não foi uma completa perca de tempo. Manuel Alegre é uma peça importante do xadrez político português e pode vir a ter um importante papel na nossa política a breve trecho se conseguir unir, consigo à cabeça, a extrema-esquerda ou uma boa parte dela. Por isso merece a atenção dispendida por táctica política não pela riqueza das suas sugestões que, aliás, não se percebe muito bem quais sejam. Os pontos fortes estão quando afirma que “muito dificilmente” integrará as listas de deputados do PS nas próximas eleições legislativas, além de não excluir a possibilidade da formação de uma nova força política de esquerda.
A entrevista constitui um forte exemplo da perigosa, mas sedutora, mediocridade de esquerda. Como ninguém percebe bem o que se passa relativamente à crise, essa esquerda de que Alegre foi desta vez o porta-voz avança com explicações simples: culpa a “globalização” e, aproveitando este compasso de espera no conhecimento da crise, elimina doutrinas de que não gosta decretando a “derrota do liberalismo”. Disserta sobre banalidades e sobre soluções avança com a criação dum novo “paradigma” sem explicar o que é esse “paradigma”. Os delírios ideológicos do costume. E Alegre delira bem.
Mas o problema de delirar ideologicamente imenso é que, por vezes, se confunde as doutrinas de que se é crente com aquelas que se combate. Notem esta pérola: “É perfeitamente legítimo que as pessoas se entreguem aos negócios, façam a sua vida nos negócios, que ganhem dinheiro, façam riqueza...” Contudo, como o pessoal da esquerda é por definição distraido talvez não repare.
Cavalgando ou não a onda, Alegre é também adepto de Obama que, devendo conhecer bem o democrata devido aos contactos ao mais alto nível que certamente possui em Washington e em Chicago, afiança que o novo Presidente dos EUA também faz parte desse “paradigma” de que fala abundantemente. Mas não explicou se o próprio Barack Obama sabe que faz parte desse “paradigma”. O que vai naquela cabeça.
Ainda no que respeita a delírios, Manuel Alegre continua convencido que o “milhão e cento e trinta mil votos” que obteve nas presidenciais são dele. Se avançar para votos sozinho, com o novo partido que não exclui criar, vai perceber arduamente que não é bem assim e o desgosto pode-lhe ser fatal. Até lá, já percebeu que é quem tem as melhores possibilidades para unir a extrema-esquerda. Por isso o desencanto com o PS que, afinal de contas, só lhe dá o cargo de deputado, algo que até o BE lhe pode conceder.
Contudo, a mais valia da entrevista reside no facto de as coisas à esquerda do PS começarem a se clarificar. Louçã é inteligente e sabe que só tem a ganhar em se aproximar de Alegre tanto faz se juntos no BE ou se juntos numa coligação que inclua o BE e o novo partido de Alegre. Também o PCP, que é a habitual pedra no sapato da união da extrema-esquerda, já revelou, por Jerónimo de Sousa, “disponibilidade para entendimentos”. Se a extrema-esquerda aparecer unida em eleições pode ter um resultado de na ordem dos 20% ou até mais. E o quadro político português pode ficar tripartido em PS, PSD e extrema-esquerda. É por isso vale a pena ler entrevistas ocas e bacocas como a que deu Alegre ao DN.

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