terça-feira, 7 de abril de 2009

Os Açores vistos por John Updike

Grandes navios verdes
Eis que navegam
Ancorados, para sempre;
Sob as águas

Enormes raízes de lava
Prendem-nos firmes
A meio do Atlântico
Ao passado

Os turistas, pasmando
Do convés,
Proclamam aos guinchos lindas
As encostas malhadas

De casinhas
(confetti) e
doces losangos
de chocolate (terra).

Maravilham-se com
Os campos graciosos
E os socalcos
Feitos à mão para conter

Os modestos frutos
Das vinhas e das árvores
Importadas pelos
Portugueses:

Paisagem rural
Vindo à deriva
De há séculos;
À distância

Amplia-se.
O navio singra.
Outra vez a constante
Música alimenta

Um navio à popa,
Os Açores sumidos.
O vácuo atrás e o vácuo
À frente são o mesmo.

Originalmente publicado na Harper’s Magazine (Janeiro 1964, p.37), traduzido por Jorge de Sena no suplemento literário Glacial do jornal A União (5 de Setembro de 1969). John Updike passou de barco pelos Açores numa viagem transatlântica que fez em 1954-55.

Sem comentários:

Vos estis sal terra |

 Vos estis sal terra | "I Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porq...