quinta-feira, 30 de abril de 2009

Coisas do Corisco

«Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo deapertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!» Carlos Drumond de Andrade.

1 comentário:

Paula Patrício disse...

Como a vinda de um mosquito ao nosso quarto pode ser descrita com tamanha sensualidade?
Só mesmo sendo um excelente homem das letras.
Excelente escolha!

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