domingo, 29 de junho de 2008

Existe virtude na pobreza?

Porque é que vemos a pobreza como uma virtude? As pessoas menos favorecidas economicamente não são necessariamente pessoas boas e respeitáveis nem honestas, nem sequer humildes. Aliás, a minha experiência de contactos com pessoas com dificuldades económicas revela que virtudes não abundam entre pessoas de classes baixas, isto é, nada as distingue das outras classes sociais deste país.
Existe sim uma cultura de pobreza enraizada entre muitos portugueses que por causa dela nunca sairão deste estado económico de dependência, sobretudo do Estado. A pobreza é um problema, na maioria dos casos, de cultura. E não é com a atribuição de subsídios estatais que ela vai desaparecer.
Quando fui jornalista no Diário dos Açores tentei, na minha pueril ingenuidade, fazer uma reportagem sobre casos em que a atribuição do Rendimento Mínimo Garantido permitiu fazer sair da pobreza (e da dependência do Estado) algumas famílias ou pessoas individualmente. Não consegui, nos Açores, encontrar nenhum caso em que a atribuição de apoios sociais funciona-se como um incentivo para o progresso económico. Bem pelo contrário. A atribuição de subsídios tornou-se mais um “direito garantido” de quem culturalmente vê na atribuição duma miserável quantia monetária, a despesas de quem trabalha, a sua própria “realização pessoal”. Acreditem: existem inúmeros portugueses cujo projecto de vida é somente receber uma quantia em dinheiro sem fazer nada por ela. Agora, nos Açores e não só, quando se precisa duma mulher-a-dias não há. Nem canalizadores ou electricistas entre muitas outras profissões dignas.
A “mudança” para ser efectiva passa necessariamente pela assimilação duma cultura da “virtude do trabalho” que encerre definitivamente a actual cultura de “virtude da pobreza”. Custa mais é certo. Mas também sabe melhor quando nos vemos ao espelho.

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