segunda-feira, 20 de outubro de 2008

As legislativas açorianas por partido

O PS e Carlos César são os grandes vencedores. Contudo, a vitória ficou aquém das elevadas expectativas dos socialistas açorianos em geral e do seu líder em particular. César queria uma grande vitória para terminar em beleza esta sua última candidatura a presidente dos Açores. Não consegui, e ficou visivelmente abatido por isso. Tendo em conta que o PSD aparecia com um líder fraco, César pensou erradamente que iria esmagá-lo com veemência. Mas isso não aconteceu, ou melhor, não aconteceu nas proporções que pretendia. E ainda perdeu 15 mil votos em relação a 2004 e um deputado. A sua maioria parlamentar não é tão segura como isso: uma cisão de somente quatro deputados que decidam passar a independentes origina a perda dessa maioria. César encontra-se assim refém do seu grupo parlamentar. O que pode não constituir problema se tivermos em conta o historial de subserviência total dos deputados socialistas ao seu líder. Mas o que tramou César foi a abstenção. Muitos não votaram porque sabiam que a vitória de Carlos César não estava sequer em jogo. Além da abstenção o outro problema do PS-Açores foi a desnecessidade do voto útil. Muitos açorianos de esquerda puderam entregar, com emoção, o seu voto ao BE e à CDU sem que isso pudesse contribuir para que a direita vencesse as eleições.

O PSD manteve a cabeça erguida. Com um líder fraco como Costa Neves, que nem sequer se deu ao trabalho de tentar demonstrar que estava realmente a disputar eleições para ganhar, não foi cilindrado como se previa. Com menos de 20% dos votos que o PS e menos um deputado do que em 2004, o PSD teve a sua pior derrota de sempre nos Açores e em S. Miguel. Mesmo assim, os sociais-democratas açorianos saíram com uma sensação de alívio. Não foram totalmente esmagados e não devem voltar a defrontar Carlos César no futuro. Mas a abstenção pode ter ajudado suavisar esta derrota. Costa Neves, honra lhe seja feita, teve grandeza na maneira como abandonou a liderança. E continua com capital político para, por exemplo, recuperar a Câmara da Angra do Heroísmo para o PSD já nas próximas autárquicas.

O CDS é o pequeno grande vencedor. Apesar do seu líder, Artur Lima, se ter revelado um brilhante parlamentar na última legislatura muito deste sucesso eleitoral é devido a Paulo Portas que voltou a ser ele próprio e arrancou milhares de votos um pouco por todas as ilhas dos Açores. Sem Portas o resultado nunca seria este. O líder nacional do CDS matou dois coelhos duma cajadada: ajudou o CDS-Açores a ter a sua melhor prestação de sempre consubstanciada pelo maior grupo parlamentar (com 5 deputados eleitos) que este partido teve em toda a sua história nos Açores; e Portas ainda transformou estas eleições num excelente balão de oxigénio para os difíceis combates eleitorais que irá disputar no próximo ano. Depois dos desastres nas eleições intercalares de Lisboa e na Madeira, Paulo Portas mostra mais uma vez que continua o “animal político” de sempre.

O Bloco de Esquerda congregou uma parte significativa do voto urbano de S. Miguel e da Terceira para através do círculo de compensação eleger dois deputados. É o segundo pequeno vencedor. Beneficiou da falta de necessidade do voto útil à esquerda e sacou uns milhares de votos ao PS. O eleitorado açoriano possuiu características favoráveis ao crescimento do BE nas ilhas: Ponta Delgada e Angra são cidades bastante urbanas com imensos funcionários públicos de competência mediana, jovens ignorantes, pobres letrados e uma vasta gama de pessoas subsídio dependentes – o seu eleitorado natural, que agora começa a captar.

A CDU voltou ao Parlamento. Mas foi uma vitória amarga porque se viu ultrapassada pelo BE como quarta força da região. O eleitorado da CDU é pequeno, mas fiel. Não foram captados novos eleitores, apenas mantidos os de sempre. A diferença entre o sucesso de 2008 e o fracasso de 2004 reside na existência do círculo de compensação.

Quanto aos outros, o PPM chega à ALRA com um deputado no Corvo por 75 votos. Mas já é uma força com acento parlamentar. É também um dos pequenos grandes vencedores. O mesmo não se pode dizer do MPT que foi outro grande derrotado e também defraudou as expectativas. Tinha um excelente candidato a deputado, mas o facto de concorrer apenas em uma ilha fez com que não conseguisse aproveitar a boleia do círculo de compensação. Por fim, o PDA mantém a seu histórico de mediocridade eleitoral inabalável. Este partido nacionalista açoriano devia reflectir seriamente sobre a sua razão de existir.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma excelente leitura sobre as Legislativas dos Açores.
Parabéns!

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