Sócrates, como bom tecnocrata que é, adora imitar. E, no seu caso, imitar é adoptar uma imagem que não é naturalmente sua. Sócrates imita Obama. E imita Obama porque o candidato democrata projecta uma inegável imagem de “mudança”. E Sócrates deseja o mesmo. Mas não consegue. Não consegue porque já todos já o conhecem. Por isso não vale a pena copiar o estilo de Obama – como Sócrates tanto se tem esforçado, especialmente no comício de reentrada política do PS em Guimarães e agora (sem casaco nem gravata e de mangas arregaçadas, só se distinguindo de Obama pela palidez da pele) nos Açores. Esse estilo de “mudança” só funciona numa primeira candidatura. Obama se for eleito presidente, não se vai recandidatar de mangas de camisa a um segundo mandato, como faz desta vez. Nessa altura já todos os americanos o conhecem e o teatro político tem necessariamente de ser outro. Mas Sócrates não percebe isso. Pensa que basta ter uma idade idêntica e a mesma elegância física, além de algumas vagas parecenças ideológicas e o mesmo estilo informal para ser parecido com Obama. O género teatral de “mudança” que Obama personifica tem obrigatoriamente que estar associado à novidade. Obama é novidade. Sócrates não. Em 2004 talvez tivesse funcionado, mas agora não. Nessa altura, Sócrates não teve engenho para representar o papel que Obama neste momento representa. E é esta a diferença entre o original e a cópia.
"A questão é saber se há pessoas honestas quando o interesse ou a paixão estão em jogo." Talleyrand.
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